Praça do Patriarca

Praça do Patriarca

Praça do Patriarca era um destino escrito no ônibus elétrico que subia a Augusta e que invariavelmente eu pegava nos anos 80 para ir ao centro. Meio sem prestar atenção, sabia que era o último acesso de carro antes dos calçadões e ficava a poucos metros do Teatro Municipal.
Depois, já nos anos 90, voltei ali para uns eventos no MASP centro, que é uma Galeria subterrânea, a Prestes Maia, elegante, toda de mármore e cujas escadas rolantes nos levam até o arco suspenso de concreto, polêmico projeto de Paulo Mendes da Rocha que abriga pedestre emergentes da parte de baixo do Viaduto do Chá.
IGREJA-DE-SANTO-ANTONIO-WEBHá muitos prédios bonitos ali, bons representantes do centro chique, ainda mais que o Patriarca a parte alta da Rua Boavista, junto à Bolsa de Valores e ao edifício Martineli. Mas uma construção particularmente interessante, um tanto espremida entre reformas e fachadas de gosto duvidoso, chamou a minha atenção.
Ali, pintada de cor de rosa, uma pequena igreja sempre aguçou minha curiosidade e, por sincronicidade , já que acaso não existe, se apresentou generosa nos poucos segundos que, apressada, dispensei à passagem, indo ver uma instalação no CCBB.

Trata-se da Igreja de Santo Antônio, meu santo amado e de devoção, uma das mais antigas de São Paulo. Com seu interior barroco, pequenininha, parecia uma igreja de Itu no interior de São Paulo ou Minas, linda e acolhedora… Entrar nessa igrejinha é como avançar num túnel do tempo, com seus registros da arte produzida em São Paulo durante o período colonial, obras com detalhes impressionantes e todo o passado histórico por trás desse pequeno templo. O silêncio e ambiente envolveram os sentidos e me afastaram do centro de São Paulo, que estava a apenas alguns passos para trás.

A referência mais antiga à igrejinha data de 1592, no testamento de Afonso Sardinha, um bandeirante. Até então, ela seria uma capela construída por fiéis de Santo Antônio. Informações mais precisas sobre a história da igreja são documentadas muito tempo depois, em 1638. Nesse ano acontecia a primeira reforma, que a prepararia para receber os frades da Ordem dos Franciscanos, recém-chegados do Rio. Quase cem anos depois dessa data, acontece outra grande reforma de ampliação, feita por Dom Bernardo Rodrigues Nogueira, primeiro bispo de São Paulo, que contou com apoio da comunidade fiel ao santo.
Até então, a igreja era uma ermida – uma igreja rústica. Com o crescimento proporcionado pela reforma chega a categoria de igreja. A Irmandade dos Homens Pretos modifica a fachada e diversos pontos da igreja durante o período colonial e é essa a maior influência que podemos ver atualmente em sua estética, apesar dos diversos acontecimentos que viriam pela frente.
Em 1891, um incêndio num dos prédios vizinhos arruína parte da local, que posteriormente teve a fachada e a torre reformuladas, para que obras na rua Direita (onde se encontra) fossem realizadas. Após anos de reforma, a igreja ganhou uma nova fachada, no estilo eclético. Tudo isso no século XIX!

Atualmente, ela é patrimônio tombado pelo governo, por sua importância histórica. A estética barroca foi recuperada em 2005, quando a igreja passou por uma reforma que acabou por ser uma descoberta: pinturas do século XVII foram reveladas embaixo de talhas feitas no século XX e o altar principal, de 1780, foi restaurado e voltou a ter as cores do barroco, que são o vermelho, amarelo e dourado, principalmente.

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