Picasso já teve sua obra exposta, criticada, analisada e dissecada à exaustão, mas parece incrível, sempre conseguimos obter um viés inusitado na imensa trajetória desse artista controverso.
O fotógrafo Edward Quinn teve momentos de muita sorte. Conviveu com vários artistas, inclusive Pablo, na intimidade de seu ateliê e reuniu material intenso publicado em livros específicos, que eventualmente viraram exposições, exercendo o papel duplo de registrar e “curar” o trabalho desses artistas.
O livro “Les Objets Picasso”, da editora Assuline, nos mostra uma faceta pouco explorada do artista espanhol: o de construtor de objetos. Poucas pessoas sabem a diferença entre uma escultura e um objeto. Escultura pressupõe agregar, moldar ou subtrair porções de um mesmo material: argila ou mármore, por exemplo. Já objeto é o produto da justaposição de materiais.
Assim, a mesma arte africana que influenciou o artista quando da explosão do cubismo, inspira máscaras feitas em papelão, argila e metal, que acompanham todas as fases do artista, paralelamente à pintura.
As peças são impressionantes, cruas, poéticas e instigantes. Do mero papelão à porcelana e cerâmica, Picasso mais uma vez tira leite de pedra. Afinal, para sua alma atormentada, como ele mesmo disse: “Os objetos, os mais cotidianos, são um recipiente; um veículo para o meu pensamento”.