O inesgotável banco de dados

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Patrciao

“- Patricio Bisssso”

Se fechar os olhos posso ver a cena, o palco grande, uma luz de foco sobre aquele cara meio Tintin, sotaque “leve”, olhar tímido.

O Patricio é essa figura especial e marcante que enfeitou muito a cidade de São Paulo nos anos 1980, sobretudo.

Multi talentoso, desenha magnificamente bem, com um traço atemporal e chic, ilustrou durante muito tempo a coluna da Joyce onde tive a honra de ser uma das retratadas, canta, dança (…é…) e produz espetáculos super lindos, sketch, quase tableaux vivant com a marca pessoal irônica e vintage que lhe é peculiar. Junto com Jorge Freire montou o  “Louca pelo saxofone” que ficou na memória de muita gente ” primeiro no sesc pompéia, depois no Sérgio Cardoso, e finalmente no Cultura Artítica, estivemos quase três anos fazendo, não aguentaba (sic) mais! ah, o teatro Jardel Filho, puseram até uma estrela na calçada …”, conta o próprio Patricio, mas ,sua maior contribuição estética  foi sua pessoa performática . Patricio se montava de mulher, mas não qualquer uma, Olga Del Volga, a sexóloga, seu heterônimo mais famoso era chiquérrima, hiper bem maquiada, impecável.

Morando há tempos na Argentina, Patricio tem nos brindado com pérolas da mais fina ironia culta, alguns desenhos além de infinitas e impagáveis imagens de época no facebook. Onde será que esse cara arranja tanta foto boa?

Para matar a saudade, falamos um pouquinho:

1- Qual a sua primeira memória da chegada ao Brasil?
PB. Se disesse que me lembro de alguma coisa em especial, estaria mentindo. Poderia inventar algo sobre a garôa, que São Paulo era muito grande, não sei, a verdade que não me lembro de nada, eu cheguei e como era menor de idade não queriam me deixar entrar, mesmo com a autorização do meu pai. O único telefone que tinha era da agência P.A. Nascimento, então veio alguém de lá e me deixaram ir. Nunca mais vi essa pessoa, passei a primeira noite num hotel em frente ao aeroporto de congonhas, já era tarde para ir até a cidade.
2-Suas referências são muito nostálgicas. Como você tomou contato com esse universo dos anos 1940, 1950?
PB. De pequeno era apaixonado por mitologia grega, todas aquelas coisas esquisitas que eles faziam, mas com uns 11 anos comecei a desenhar baseado nas velhas fotos de família, eram mais coisas dos anos 1920 e dos 1930. Nessa época comecei a frequentar a seção homeroteca da biblioteca e a comprar revistas nos sebos, que eram bem baratinhas, não como agora. Os anos 1940 e os 1950 vim a gostar mais tarde, na época (estou falando no começo dos anos 1970) eu achava muito moderno, só vim a gostar mais tarde.
3- Imagino que você vivia na frente da tv quando pequeno…
PB. Eu não assistia muita tv de pequeno, a minha mãe só deixava de 5 a 7, quando fiz 12 comecei a assistir mais, e ia muito ao cinema sozinho. Como naquela época não tinha vídeo-cassete, eu gravava o som dos filmes, e tinha feito apuntes (sic) das roupas, então recriava tudo ao meu jeito.
4-Você se maquia e desenha TÃO bem. Onde aprendeu?
PB. Eu esperava minha mãe ir embora, dar as suas aulas de inglês, para me trancar no banheiro e começar a experimentar. Mas eu não gostava muito das cores das maquiagens dela, batom muito clarinho (eram os late do 1960s). para tirar eu esfregava a cara na toalha, e quando ela voltava e via as manchas, gritava:”já esteve se pintando de novo, sua mariquinha!” mas eu não estava nem aí … desenhar eu sempre gostei, copiava o pato Donald, e com 13 anos tive a sorte de conhecer um verdadeiro gênio que foi o Daniel Melgarejo, quando foi para Europa pouco tempo depois, me deixou o seu trabalho no jornal “La Opinión”, o meu primeiro trampo, aos 15 anos.
5- Quais os seus outros predicados? Você lava, passa, cozinha….?
PB. Eu não lavo nem passo, para isso está (sic) a empregada, mas na cozinha eu me viro bem, e não faço muita bagunça, como devem estar imaginando.
6-Ainda existe glamour no mundo?
PB. Eu acredito que o glamour deve existir, sim, mas não se vê mais nas ruas, deve estar trancado dentro de casa.
7-Sexólogas não são mais satirizáveis. Se você fosse criar uma personagem feminina hoje, que profissão ela teria?
PB. Acho que eu faria uma economista, mas já teve a Lillian Bife Quibe, que era ótima, quem sabe uma mulher que de aulas de etiqueta, na verdade não quero satirizar mais ninguém, aposentei.
8- Patricio Bisso em um palavra:
PB. CANSADO …

Agora com vocês os belos desenhos do Patricio.

Essa sou eu nos anos 1980, galera

Patricio

 

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FORTE

 

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Shirley Temple

 

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A mesma máscara negra

 

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 Ja me disseram que voltei americanizada

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