A delicadeza do trabalho da artista que registrou a exuberância amazônica
Ao vermos essa senhorinha de cabelos branco rebeldes, curvadinha e com um sorriso quase esculpido no rosto, fica difícil catalogá-la. Quase inumana, Margaret Mee (1909 -1988) parece mais uma figura elementar, uma fada etérea, beirando a transparência. Bem inglesa, é mais fácil imaginá-la tomando uma xícara de chá em seu estúdio, cortinas esvoaçantes, enquanto faz correr lépidas suas mãozinhas engenhosas e divinamente dotadas sobre o papel aquarela.
Margaret Mee percorreu o mundo atrás de seus modelos. Sua vida foi viajar atrás de espécies da flora e também fauna e registrá-los em desenhos acadêmicos que parecem de um tempo suspenso, eterno por seu classicismo. Por exatos 32 anos, Margaret visitou a selva amazônica para registrar sua exuberância e variedade. Corajosa, enfrentou rios sinistros, índios, insetos, cobras e por aí vai.
Tinha obsessão pelo único, a ponto de planejar uma viajem específica para registrar a Selenicereus wittii ou flor-da-lua, raríssima que brinda os olhos e a natureza com uma floração noturna, de apenas algumas horas. Conseguiu!
Além de não serem facilmente catalogáveis num tempo passado, continuarão sendo no futuro. Com o constante desaparecimento de espécies nativas e habitats naturais, o declínio da biodiversidade pode colocar seu trabalho numa linha de fantasia, quase em um gabinete de curiosidades, uma ficção científica romântica. Ou não.
Quem sabe? Quem viver, verá.