Margaret Mee e nós

Margaret Mee e nós

A delicadeza do trabalho da artista que registrou a exuberância amazônica

Margaret Mee
Margaret Mee / Reprodução

Ao vermos essa senhorinha de cabelos branco rebeldes, curvadinha e com um sorriso quase esculpido no rosto, fica difícil catalogá-la. Quase inumana, Margaret Mee (1909 -1988) parece mais uma figura elementar, uma fada etérea, beirando a transparência. Bem inglesa, é mais fácil imaginá-la tomando uma xícara de chá em seu estúdio, cortinas esvoaçantes, enquanto faz correr lépidas suas mãozinhas engenhosas e divinamente dotadas sobre o papel aquarela.

Reprodução
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    Cheios de detalhes e preciosos ao extremo, seus desenhos de natureza supracientífica rivalizam em pé de igualdade com o bom gosto e o apuro técnico que o resultado final evoca. No entanto, essa fragilidade toda esconde uma força da natureza, uma vontade maior que o físico, uma curiosidade ferrenha e uma determinação desconcertantes, quase missionária.
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    Margaret Mee percorreu o mundo atrás de seus modelos. Sua vida foi viajar atrás de espécies da flora e também fauna e registrá-los em desenhos acadêmicos que parecem de um tempo suspenso, eterno por seu classicismo. Por exatos 32 anos, Margaret visitou a selva amazônica para registrar sua exuberância e variedade. Corajosa, enfrentou rios sinistros, índios, insetos, cobras e por aí vai.

    Tinha obsessão pelo único, a ponto de planejar uma viajem específica para registrar a Selenicereus wittii ou flor-da-lua, raríssima que brinda os olhos e a natureza com uma floração noturna, de apenas algumas horas. Conseguiu!

Flor-da-lua, pintada em momento único por Margaret Mee /Reprodução

    Além de não serem facilmente catalogáveis num tempo passado, continuarão sendo no futuro. Com o constante desaparecimento de espécies nativas e habitats naturais, o declínio da biodiversidade pode colocar seu trabalho numa linha de fantasia, quase em um gabinete de curiosidades, uma ficção científica romântica. Ou não.

    Quem sabe? Quem viver, verá.

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