Lendo o livro da Zélia Gattai “Anarquistas graças a Deus”, aprendi que a região de Cerqueira César, mais precisamente as ruas que ficam entre a Paulista e a Av. Brasil, foram povoadas por imigrantes, principalmente italianos, que vieram para São Paulo no começo do século XX para trabalhar com seus ofícios, na grande maioria prestadores de serviço para os milionários da Av.Paulista.
Eram alfaiates, sapateiros, mecânicos, bicicleteiros e costureiras que tinham seus negócios de frente para a rua e moravam em cima do próprio local de trabalho, daí a característica dos sobradoscom lojas com portas de aço que podem ser encontrados até hoje em ruas como a Consolação, por exemplo. Quem tiver a sorte de entrar na casa da Laces vai ver o enorme espaço do quintal, onde eram cultivadas árvores frutíferas.
Com certeza muita coisa mudou nesse pedaço, mas o verdadeiro it do bairro evoca a multiplicidade de negócios, o prazer de descobrir um serviço que não está necessariamente ligado aendereços milionários, e o shopping a céu aberto que virou a Oscar Freire.
Modéstia à parte, a rua mais legal do bairro, a que mantém mais esse perfil, é a minha, a Melo Alves. Falo que é a minha rua porque moro aqui há 16 anos, é onde tenho meu ateliê e passeio por esse trajeto super urbano como se estivesse numa cidade do interior dos anos 50, cumprimentando todo mundo, perguntando de um e outro. É assim desde que passava grávida com meu barrigão, depois com minhas filhas no carrinho…
É com muita alegria que compartilho com vocês alguns endereços dessa rua deliciosa que não para de mudar. Se quiser conhecer, vá logo!
Aposto que todo mundo sabe de alguém que sonha em abrir um café.
Por algumas histórias que ouço, parece que o sonho tem muito potencial de virar pesadelo, mas em casos como da Leckerhaus, a sensação é de estarmos num lugar de sonho mesmo.
Mas em casos como da Leckerhaus, a sensação é de estarmos num lugar de sonho mesmo.
O imóvel em si é um dos mais conservados da rua. Ali funcionava a loja da bijoutiere Vera Arruda, que tinha deixado a casa bem intacta, só abrindo a vitrine. Confesso que fiquei meio apavorada quando vi a fachada sendo coberta por azulejos brancos, mas tive que dar o braço a torcer quando as portas foram abertas.
O lugar parece a casa do Gepeto, misturado com a da vovó, mais uma pitada do descolamento do Soho e a sofisticação de receitas de Paris.
Bem legais as mesinhas e o banco grande e a mesa maior comunitária, misturando almofadas floridas, cadeira vintage de metal e luminárias industriais.
Receitas sempre deliciosas de tortas doces, muito caprichadas e fora do óbvio como marzipan com damasco e pistache com chocolate branco.
Nas prateleiras, pratinhos de coleção e bules antigos, mas o que me cativou definitivamente foi o Santo Antônio antiguinho, todo descascado, discretamente observando o movimento num cantoacima do caixa.