Chego no teatro e vejo na platéia um lugar perfeito.
Na hora que vou sentar, uma mulher MEIO que vem junto, aquele impasse e eu, me achando A MELHOR pessoa do mundo, a mais educada, cedo a ela. Em seguida procuro outro e constato que só tinha uns poucos, laterais.
Escolho o menos pior mas mesmo assim me dei muito mal, tinha uma torre de luz na frente, perco uns 20% de visão.
A raiva toma posse de mim, fico obsessiva e este sentimento , ou melhor, esse modus operandi é o que vejo no espetáculo que se desenrola.

   Antes de começar a peça, descubro que o diretor, Mauricio Perussi é cria do Teatro da Vertigem, o que já estimula a espera por algo novo, experimental e de bom gosto. De fato, logo ao sentar percebo a singularidade do palco “solto” no meio da sala meio subterrânea e nua do Centro Cultural Vergueiro.

    Rufam os tambores e começa… entra em cena um personagem curioso que ao longo do espetáculo faz o papel de contra-regra, assistente e sim, coro, logo em seguida um casal começa, assim, o desfile de voracidades. A fome de notícias do título mas também outras, de sexo, de sensações, de intensidade, fome e sede de plenitude, um nível absurdo, frenético e então o tédio, o sono, a morte.

    Evaldo Mocarzel, o autor, diz ter escrito o texto como um exorcismo para os 15 anos que trabalhou em jornal.
Independente do impulso que o moveu, em se tratando de um artista, resta-nos a gratidão por nos espelhar um sistema onde o tudo e o nada são separados por uma linha tão tênue… um vazio tão profundo e, como mulheres, agradecer por sua generoside no partilhar honesto da visão masculina da potência sexual. O monólogo do ator sobre o que pode se passar na cabeça (?) de um homem frente a uma ereção é sem dúvida, um dos pontos altos da peça.

    No mais, trata-se de uma co-criação. A direção precisa, atores excelentes, uma constante surpresa.
Além de muito belo plasticamente, “Fome de notícia”é um belíssimo espetáculo, desses que levamos conosco durante muitos dias, cheios de insights e questinamentos de alto nível.

Fome de notícia: Texto: Evaldo Mocarzel – direção: Maurício Perussi – elenco: João Attuy, Marco Biglia e Sofia Boito.

Tragicomédia.

Duração: 60 min. Classificação: 16 anos.

Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h.

Ingressos: R$20,00 (a bilheteria abre duas horas antes do início do espetáculo) – preço popular: R$3,00 (somente no dia 20/9) – Espaço Cênico Ademar Guerra, Teatro Centro Cultural Vergueiro – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso, São Paulo.