Flores Raras, o filme de Bruno Barreto estréia no Brasil depois ter sido ovacionado em Berlim.
Por meio deste belo trabalho, entramos em contato com o relacionamento envolvendo Lota de Macedo Soares, representada por Glória Pires e Elizabeth Bishop, vivida na tela por Miranda Otto, papel que seria inicialmente de Jodie Foster.

Jodie é uma grande atriz que com certeza faria uma ótima Bishop, mas é constantemente lembrada por sua suposta homssexualidade não declarada, por viver trancafiada no armário e embora, de fato, a história do filme gire em torno do envolvimento amoroso das duas, a questão de serem duas pessoas do mesmo sexo, embora tentador enquanto curioso, é muito menor frente às questões humanas, dos relacionamentos como um todo propostas pelo roteiro. Se Jodie tivesse feito, este seria o único assunto, então creio que o mundo teve muito a ganhar com essa troca

Temos por exemplo a questão cultural. A frieza americana, versus o calor tropical.

A questão econômica, de como um talento sofre preconceito às avessas quando vindo de uma pessoa rica, uma Dona Maria Carlota Costallat “Lota” de Macedo Soares (1910 – 1967), como se trabalho  que não  seja de sobrevivência não tivesse valor.

E também o embate arquetipico entre admiração e ciúme/inveja que envolve duas pessoas criativas juntas.

A questão do amor é profunda, infinita e paradoxal mas sempre pressupõe troca e certamente a dependência é o maior vilão dos finais felizes, ou dos relacionamentos sem final.

Lota, a forte, a que cuidava da frágil, alcóolica Elizabeth, não resiste sem ela, sucumbe, desiste de viver na ausência do amor que se prova inviável dentro do projeto, que como arquiteta, Lota traça para si.

O filme é lindo, atuações belíssimas, raras, sensíveis, o tema do amor, o maior, mas existe também o amor de um povo, por si mesmo, no exercício vaidoso da política, na utilização inconsequente da potência pública, como tão bem remarcado pela poeta americana , mas também o amor na forma de respeito, no caso por um projeto, como o aterro do Flamengo, incompleto e deturpado na sua concepção original.

Veja, muito bom.