Lá se ia o século 19 e um novo tempo se insinuava reluzente, trazendo uma atmosfera efetivamente desconhecida, indústria, mercado, classes sociais emergentes e um sem número de profissões surgiam em decorrência das novas necessidades.
Na medicina, o avanço da ciência possibilitou o desenvolvimento das vacinas e da penicilina. O progresso, em geral, era bastante animador, mas existiam ainda aquelas doenças que não encontravam descrição apenas fisiológicas e, na Áustria e na Alemanha, uma nova cadeira surgia: a psicanálise.
Freud foi o fundador da psicanálise, que se constitui em uma maneira de examinar os mecanismos e conteúdos psíquicos, que o indivíduo geralmente não pode explorar por meio de um exame racional da sua própria consciência. Ao longo de sua trajetória profissional formulou conceitos com os quais convivemos pacificamente hoje em dia, mas que soaram bastante exóticos, como inconsciente e catarse.
Desde então, iniciou-se uma popularização e um desdobramento infinito do processo analítico, que tinha um fim bastante claro: tornar as pessoas mais felizes. Artistas sempre foram um prato cheio para quem quiser entender uma alma atormentada, mas, às vezes, a análise no consultório não é suficiente, e o trabalho do artista carrega o esmiuçar da alma, do segredo, do medo, da vergonha e da expectativa, de uma maneira explícita.
Louise Bourgeois foi uma artista corajosa que, à maneira alquímica, expôs em sua produção seu universo interno em pé de igualdade com a questão estética. Louise gostava de falar, de escrever, de formalizar, compulsivamente. Quem teve a chance de assistir ao espetáculo sobre ela, concebido por Denise Stocklos, poderia captar uma faísca de sua voz ao vivo, trêmula, mas de certa maneira incisiva.
Na verdade, discorrer sobre o conteúdo de suas obras, instalações e esculturas, principalmente, acabou virando uma obra em si na maioria das críticas e também em seu livro “Destruição do Pai/ Reconstrução do Pai”. Mas, na arte, o trabalho deve falar por si mesmo. E esse trabalho, assim como sua criadora, fala bastante. Para lê-lo, ou melhor, para dialogarmos com ele precisamos exercer o papel de ouvintes/ espectadores e educadamente, esperar a nossa vez de falar, ou não.